quinta-feira, 11 de agosto de 2016

A melancolia que eu imaginei para ti.

Se eu soubesse que o mundo terminaria amanhã, eu não faria nada diferente. Viveria meus dias, como se tudo fosse eterno. Do jeito que é na nossa mente. Não daria um tchau antecipado, ou mandaria beijos. Não abraçaria além do normal ou vocalizaria meus mais positivos desejos.
Se eu soubesse que o mundo terminaria amanhã, eu me manteria igual. Quase incrédulo, até o final. Até o último instante. Só para ver aquela bola de fogo se aproximando, gigante. Ardendo a vida da terra, sem culpa ou pena. Como quem varre uma varanda empoeirada. Não pensando em como a vida é pequena. Na morte dos que se foram cedo. Na tristeza dos que te ofenderam. No café que ficou no bule quente. No pão de amanhã. E bem pouco no próprio presente.
Se eu soubesse que o mundo terminaria amanhã, eu não contaria para ninguém. E quando minha esposa falasse sobre algum problema do trabalho, eu diria que tudo está bem. Que amanhã isso se resolve. Que o suspiro da vida que vivemos não vale o incomodo.
Ela iria estranhar.

Eu iria sorrir.
Mas um novo dia nasceria, para que o fim nos achasse.
E se eu soubesse que o mundo terminaria amanhã, eu não dormiria. Eu leria a poesia de Pablo Neruda. E caminharia através das estrelas com Ariano Suassuna. Eu conversaria com Deus do jeito que eu penso que ele me ouviria.
E esperaria.
Aquele último instante, antes do tudo virar nada. E de todos os problemas da terra serem resolvidos em um único segundo.
Se eu soubesse que o mundo terminaria amanhã, eu não faria nada diferente.

Eu amaria. Erraria. Choraria. E não desistiria nem por um segundo de ver outro sol nascendo, nesse mundo sem fim. Tão divino. Tão terreno.

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