Eu prefiro ser livre.
Isso não me faz melhor que ninguém. Mas também não dá pra aceitar que me faça pior... Ser livre é no fundo uma declaração de independência. Um grito de liberdade contra os grilhões que violam a rotina que te proíbe de florir na primavera. Que não te deixa abrir as asas e voar. Que te diz que não vai dar pé, que não vale nem tentar.
Claro que o risco não é o único preço que a liberdade cobra. Li em algum lugar que o que a vida quer é que tenhamos coragem. Talvez, mas principalmente, a vida quer que tenhamos coragem para desafia-la.
"- Tu vai falar alguma coisa?"
Em silêncio por muito tempo, ele levanta os olhos lentamente.
"- Não vai né?" - perguntou ela com os olhos semi cerrados. - "Tu vais ficar quieto..."
Ele respirava fundo. Não de forma barulhenta ou agressiva, só respirava sentindo o ar circular pelas narinas em direção aos pulmões. Num ato intenso, ritmado e profundo. Como se cada respirada fosse uma chance de viver mais um pouco. Como se a cada vez que ele inspirasse o ar para dentro do seu tronco, a vida recebesse mais um pouco de água. A vida recebesse mais um pouco de tempo.
Até que ele vagarosamente inspirou o ar, enchendo seus pulmões com bastante ar. E não o soltou. O som do mundo se calou. Os pássaros não conseguiram mais cantar. Os passos não causaram mais barulho. O vento não conseguia assobiar. Tudo ficou mudo.
E na sua frente, a vida parecia tentar gritar. Gesticulava nervosamente, movendo mãos e braços, movendo lábios e língua. A vida vivia a agonia.
"- Tu não vais mais decidir por mim..." - ele pensou em total silêncio.
A vida já estava de joelhos, se asfixiando. Roçando as pontas dos dedos no próprio pescoço, com lágrimas escorrendo dos olhos. Quando ele disse:
"- Eu sou livre!".
E todo o som do mundo voltou.
Como uma onda que encontra a areia da praia.
A vida golfou ar para dentro, respirando tempo e concordando com a cabeça.
Eu sou livre, ele disse. E a vida ouviu. Desde então, qualquer um que deseje ser livre, só precisa dizer. Ser livre é uma escolha. E apesar de todas as vezes que ele cai, alguém rir, alguém lhe apontar o dedo, alguém lhe dar palavras perversas pelas costas. Ele dobra os joelhos e novamente fica de pé.
"- Ralar os joelhos é um preço barato para se pagar pela minha liberdade." - ele me disse.
E o caminho segue longe. Passo por passo, queda por queda. Vitória por vitória. Ele vai, já não mais sozinho. Mas acompanhado por tantos outros que concordam que a liberdade é talvez o mais importante dos valores. Pois sem liberdade, nenhum dos outros valores podem ser valorizados.
A vida lhe segue, as vezes preocupada, as vezes achando graça. Mas sempre orgulhosa, pela coragem que teve em ser livre.
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