Vim descendo a rua assobiando. Todos os prédios pegavam fogo. Todo o bairro. Toda a cidade queimava. O mundo inteiro era um fogueira, verdade seja dita. Ainda assim eu descia a rua imaginando como isso ia terminar.
Pode ser que amanhã eu não possa mais caminhar. Pode ser que seja hora de voltar. De sair voando. De entrar em um prédio. De pegar o metrô. Tudo é bastante possível nesse lugar. Ainda assim, é melhor caminhar de cabeça erguida do que se calar pra cada voz que temos dentro da barriga.
"Good times are coming" canta um coral ao meu lado. São zumbis que estão pegando fogo e fazendo uma dancinha tipo thriller ou sei lá oque... enfim.
Batem os trompetes e trombones no alto dos prédios.
Voam as aves fugindo do fogo.
Um carro passa por mim com uma família "anúncio de comercial norte americano de margarina" pegando fogo. Enquanto todos cantaralom Beirut - East Harlem: oooooooooooooooooooooooooooohhhhhhhh
É mórbido e desconcertante. Mas vale a pena assistir. Eu acho que inventei essa canção pra mim mesmo. E ouço ela no repit porque gosto de repits.
Dobro uma esquina qualquer, e uma chuva torrencial cai sobre minha cabeça. Tudo que é fogo se apaga. Tudo que é quente, esfria. Pessoas surgidas sabe-se lá de onde fecham as janelas das casas e prédios. O sol se apaga como mágica e a lua toma seu lugar. Ouço lá do outro lado da cidade um violão folk de madeira molhada tirando um som do tipo "cool country hipster ye ye yeee" e vou. Dou um passo e já fui. E já estou.
Tem gente pra caramba aqui, mas só as pessoas que se importam. Algumas me veêm, outras não. Alguém me estica uma taça de vinho em slow motion e nossos olhos se cruzam ou se curam em silêncio.
É bom estar em casa.
É bom estar aqui.
É bom conseguir viver assim. Mesmo sabendo que amanhã toda a cidade das chamas pode desmoronar em cima de mim.
Mesmo sabendo que tudo na vida tem mais de um fim.
Mesmo assim.
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