domingo, 20 de setembro de 2009

Para jamais ser assim.

Dentre todas as abominações do Universo, eu vejo, não sou das piores.
Sim, existe muita coisa pior brotando das colinas daquele que plantam flores, alcaçam amores e moram em casas com telhado vidraçado !

Este conto, é uma parte de mim. E eu escolhi dividir ele com o blog, por achar que o blog também é.

No dia do seu nascimento, sua mãe lhe deu o nome. Ainda fragilizada pelas dores do parto, ela mal conseguiu dize-lo. Por isso gemeu:
" - Arthur..."
Seu pai que se chamava Augusto, pensou:
"- Com h ou sem ?"
E batizou o menino deste jeito. Com um almoço de família, sorrisos, taças de vinho e copos de cerveja. Quando todos foram embora, ele foi até o quarto do mais novo morador da residência e ficou a observar a criança dormir.
"- Boa noite, Arthur..." - disse o pai orgulhoso com um sorriso que pais orgulhosos manifestam as vezes.
Com o passar dos dias, Arthur ouviria sempre de seu pai que a vida é uma torre, feita de tijolos.
Que devemos tomar cuidado para que a torre seja forte e não atropelar sua construção.
Augusto repetia todos os dias, a história do nascimento de Arthur. Até ele ficar grande o suficiente para se recusar a ouvi-la. Mas como ainda moravam na mesma casa, o pai sempre o lembrava que o seu nome havia sido dado por sua mãe.
Várias vezes, Augusto tentou abordar Arthur para contar-lhe de novo e de novo o episódio. Várias vezes Arthur se negou a ouvi-la até o final.
" - To atrasado pai..."
"- Agora não dá..."
"- Paaai, de novo ?"
Eram frequentes respostas.
Arthur se transformou em um homem e assim carregava suas próprias lembranças como um homem deve fazer.
Um dia, foi a vez do pequeno Arthur ouvir sua esposa, Janaína, gemer o nome do seu primeiro filho.
"- Frederico..." - disse ela.
"- Mas é uma menina respondeu o assustado Arthur..."
Janaína morreu parindo a filha. Era primavera e nem todas as flores do mundo conseguiram enterra-la. Não para Arthur. Que batizou sua pequena de Maria. E sempre contava-lhe que sua mãe morrera achando que a filha era um menino...
Um dia Arthur abriu as cortinas da pós vida e saiu do palco.
Sentou-se ao lado de sua Janaína, seus pais estavam na plateia.
"- Maria demorará do lado de lá..." - disse alguém.
Arthur ficou feliz em saber que sua princezinha viveria mais tempo do que o pai.
De lá eles assistiam juntos as comédias que a vida dissolve diante dos atores, entre lágrimas e sorrisos. Sol após Sol.
"- Posso te contar um segredo meu filho ?" - perguntou sua mãe carinhosamente.
"- Claro querida, fala..." - disse Arthur sorrindo.
"- Era sem h."

:)

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