Dentre todas as abominações do Universo, eu vejo, não sou das piores.
Sim, existe muita coisa pior brotando das colinas daquele que plantam flores, alcaçam amores e moram em casas com telhado vidraçado !
Este conto, é uma parte de mim. E eu escolhi dividir ele com o blog, por achar que o blog também é.
No dia do seu nascimento, sua mãe lhe deu o nome. Ainda fragilizada pelas dores do parto, ela mal conseguiu dize-lo. Por isso gemeu:
" - Arthur..."
Seu pai que se chamava Augusto, pensou:
"- Com h ou sem ?"
E batizou o menino deste jeito. Com um almoço de família, sorrisos, taças de vinho e copos de cerveja. Quando todos foram embora, ele foi até o quarto do mais novo morador da residência e ficou a observar a criança dormir.
"- Boa noite, Arthur..." - disse o pai orgulhoso com um sorriso que pais orgulhosos manifestam as vezes.
Com o passar dos dias, Arthur ouviria sempre de seu pai que a vida é uma torre, feita de tijolos.
Que devemos tomar cuidado para que a torre seja forte e não atropelar sua construção.
Augusto repetia todos os dias, a história do nascimento de Arthur. Até ele ficar grande o suficiente para se recusar a ouvi-la. Mas como ainda moravam na mesma casa, o pai sempre o lembrava que o seu nome havia sido dado por sua mãe.
Várias vezes, Augusto tentou abordar Arthur para contar-lhe de novo e de novo o episódio. Várias vezes Arthur se negou a ouvi-la até o final.
" - To atrasado pai..."
"- Agora não dá..."
"- Paaai, de novo ?"
Eram frequentes respostas.
Arthur se transformou em um homem e assim carregava suas próprias lembranças como um homem deve fazer.
Um dia, foi a vez do pequeno Arthur ouvir sua esposa, Janaína, gemer o nome do seu primeiro filho.
"- Frederico..." - disse ela.
"- Mas é uma menina respondeu o assustado Arthur..."
Janaína morreu parindo a filha. Era primavera e nem todas as flores do mundo conseguiram enterra-la. Não para Arthur. Que batizou sua pequena de Maria. E sempre contava-lhe que sua mãe morrera achando que a filha era um menino...
Um dia Arthur abriu as cortinas da pós vida e saiu do palco.
Sentou-se ao lado de sua Janaína, seus pais estavam na plateia.
"- Maria demorará do lado de lá..." - disse alguém.
Arthur ficou feliz em saber que sua princezinha viveria mais tempo do que o pai.
De lá eles assistiam juntos as comédias que a vida dissolve diante dos atores, entre lágrimas e sorrisos. Sol após Sol.
"- Posso te contar um segredo meu filho ?" - perguntou sua mãe carinhosamente.
"- Claro querida, fala..." - disse Arthur sorrindo.
"- Era sem h."
:)
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